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Catequese

Do apego desordenado aos Parentes – Sto Afonso Maria de Ligório

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Aquele que se entrega a Deus já não se pertence. Deixa de existir aos seus próprios olhos, não vive em si mesmo, mas nAquele a quem se entregou, e não tem outros interesses a não ser os do Mestre. Esquecer-se de si próprio, por amor, eis a grande lei de toda a vida espiritual. Esquecer-se é excluir das ações, sofrimentos e orações todo o cálculo humano, toda a sombra se amor-próprio ou intenção egoísta. Partilharemos hoje, as fortes palavras de Santo Afonso Maria de Ligório, falando sobre o apego desregrado aos parentes. Texto muito profundo e duro, que a princípio pode nos chocar, mas temos que entendê-lo com muita maturidade, e levando sempre em mente e como prioridade, o 1º. Mandamento da Lei de Deus: Amar á Deus, sobre todas as coisas. Escreve este grande santo, às religiosas e religiosos, mas que possamos meditar esta leitura, aplicando também ela, a nossa realidade.

Façamos nós também, o que Deus Pai, pediu à Santa Catarina de Sena, quando pediu à Santa dizendo: “Ama-me com todo teu coração, porque eu te amei e me entreguei a teus amigos, por minha própria e livre vontade, enquanto meus amigos e minha Mãe caiam em amarga dor e pranto. Portanto serias muito ingrata se, em correspondência a tanta caridade, não me amasses. Se minha cabeça foi perfurada e se inclinou na cruz por ti, também tua cabeça deveria inclinar-se até a humildade. Já que meus olhos estavam ensanguentados e cheios de lagrimas, teus olhos deveriam abster-se de visões agradáveis a teus olhos. Se meus ouvidos se cobriram de sangue e ouvi palavras de zombaria contra mim, teus ouvidos teriam que abster-se das conversas frívolas e inoportunas. Ao se ter dado bebida amarga à minha boca e negado uma doce, preserve a tua boca do mal e deixa que se abra para o bem. Posto que minhas mãos foram estendidas e cravadas, que as obras simbolizadas por tuas mãos se estendam aos pobres e aos meus mandamentos. Que teus pés, ou sejam, teus atos, com os quais deves caminhar até mim, sejam crucificados aos deleites de maneira que, da mesma forma que sofri em todos meus membros, também todos os teus membros estejam dispostos a obedecer-me. Peço mais serviços para ti do que para outros porque te dei uma maior graça”, finaliza Jesus à Santa Catarina

São João Maria Vianney, disse em um sermão: “Não há nada, meus irmãos, de mais glorioso e de mais honrável para um cristão do que carregar o nome sublime de filho de Deus, de irmão de Jesus Cristo. Da mesma forma, não há nada de mais infame do que ter vergonha de manifestar isso todas as vezes que surge a ocasião. Não, meus irmãos, não nos admiremos ao ver os hipócritas demonstrarem o quanto podem um exterior de piedade para atrair sobre si a estima e os louvores do homem, enquanto que seus pobres corações são devorados pelo pecado mais infame. Estes cegos gostariam de gozar das honras que estão inseparáveis da virtude, sem ter o trabalho de praticá-las. Além do mais, não nos admiremos ainda menos ao ver bons cristãos esconder o tanto quanto podem suas boas obras aos olhos do mundo, temendo que a glória inútil se insinue em seu coração e que os vãos aplausos dos homens lhes façam perder o mérito e a recompensa delas. Entretanto, meus irmãos, onde encontraremos uma covardia mais criminosa e uma abominação mais detestável que, professando crer em Jesus Cristo…, na primeira ocasião violamos as promessas que lhe fizemos sobre as fontes sagradas do batismo? Ah! infelizmente, o que nos tornamos? Quem é Aquele que renegamos? Aí de mim!, abandonamos nosso Deus, nosso Salvador, para nos dispor entre os escravos do demônio, que nos engana e que busca apenas nossa perda e nossa infelicidade eterna. Ó! maldito respeito humano! Como tu arrastas almas para o inferno! Quem são, portanto, aqueles que se tornam culpáveis de respeito humano? Meus irmãos, escutem-me um instante, e ireis saber. Inicialmente, dir-lhes-ei com São Bernardo, que de qualquer lado que consideramos o respeito humano, que é a vergonha de cumprir seus deveres de religião por causa do mundo, todos nos  mostram o desprezo e a cegueira. Digo, meus irmãos, que a vergonha de fazer o bem, o medo de ser desprezado ou de ser repreendido por alguns ímpios infelizes, ou alguns ignorantes, é um desprezo terrível que fazemos da presença do bom Deus, diante do qual estamos e que poderia no mesmo instante nos lançar no inferno” – (FONTE : Sermons du vénérable serviteur de Dieus, Jean-Baptiste-Marie Vianney, curé d’Ars. Tome Ie, Librarie Victor Lecoffre, Paris, 1883)

Diz Santo Afonso, estas fortes palavras: “Nós lemos entre outros, no fim da vida do Padre Torres, o exemplo de Jerônima Sanfelice, religiosa do mosteiro de Alvino. Nos primeiros tempos, depois da sua profissão, era tão apegada aos parentes que sempre pensava neles, queria que viessem visitá-la amiúde e mandava todos os dias pedir notícias de seu pai. Ora, no mesmo convento, vivia uma sua irmã, chamada Maria Antônia, que era tão fervorosa que pediu a Deus a fizesse sofrer bastante. O Senhor ouviu suas preces e enviou-lhe uma úlcera que lhe roía as carnes e lhe causava convulsões mortais. No meio desses espasmos, exclamava: Mais, ainda mais, meu Esposo. Ora, estando esta irmã a morrer, disse à Jerônima que, se fosse para o paraíso, como esperava, lhe obteria a graça de se fazer santa. Com efeito depois da sua morte, Jerônima mudou de vida, e, entre outras resoluções, tomou a de não mais ver os parentes: tanto assim, que durante quarenta anos, não quis mais apresentar-se no locutório. Dois de seus sobrinhos vieram um dia para vê-la, mas ela mandou despedi-los, e foi para a grade da igreja visitar o Santíssimo Sacramento. Seus sobrinhos encontraram na igreja, para vê-la ao menos de longe, mas ela se retirou atrás da cortina.Entretanto, para isso, se fez tanta violência que desmaiou. Sem violência, ninguém chegará à santidade. Desde então, Jerônima fez tantos progressos no amor divino que viveu e morreu como uma santa. Depois de sua morte, tiraram o seu retrato e, abrindo-se o seu corpo, achou-se sobre o coração uma cruz formada de carne em sinal do seu ardente amor a Jesus crucificado. É preciso fugir de todos os parentes, quem quiser unir-se deveras ao pai comum, que é Deus”, diz São Gregório — São Bernardo nota que, quando a Santíssima Virgem perdeu o Menino Jesus, o procurou durante três dias, porém inutilmente, entre os parentes; donde concluía que nunca encontraremos Jesus Cristo entre os parentes. Pedro de Blois vai mais longe e acrescenta que o amor do sangue nos priva logo do amor de Deus. Moisés, estando para morrer, nos deixou esta bela e magnífica sentença que convém especialmente às pessoas consagradas a Deus: Aquele que disse a seu pai e a sua mãe: Eu vos não conheço; e a seus irmãos: Eu não sei quem sois; eis o que guarda a vossa lei e se conserva fiel à vossa aliança. Os santos conhecendo o prazer que davam a Deus, desapegando-se dos parentes, tiveram o cuidado de fugir deles o mais longe possível — São Francisco Xavier, quando partiu para as Índias, teve de passar perto do seu país natal, não quis porém chegar para ver sua mãe e seus parentes, embora para isso fosse instado com suas importunas súplicas e soubesse que os não tornaria mais a ver — Tendo a irmã de São Pacomio vindo visitá-lo, o santo voltou-lhe as costas, e mandou dizer-lhe: “Já sabeis que ainda vivo, ide em paz” — Quantos nem quiseram ler as cartas dos parentes? Assim fez, por exemplo, o grande Santo Antão, como refere São João Clímaco. Tinha Santo Antão, passado já muitos anos no deserto, quando recebeu cartas dos parentes. Disse consigo: “que posso esperar da leitura destas cartas, senão inquietações e perda da paz de que gozo?” A este pensamento, as lançou no fogo, dizendo: “Afastai-vos de mim, lembranças da minha pátria, para que não torne eu ao que deixei. Cartas, sede queimadas, para que eu não seja por vós queimado”. Quanto a mim, dizia Santa Teresa de Jesus, não compreendo que consolação pode ter uma religiosa junto de seus parentes. Prescindindo do apego que desagrada a Deus, ela não pode gozar dos seus divertimentos e não pode deixar de tomar parte nos seus padecimentos — Ó minhas irmãs, como vos quadram bem estas reflexões! Quando vossos parentes vem ao locutório, não vos podem tornar participantes de seus prazeres mundanos, porque estais encerradas na clausura e não podeis ir com eles. Que vem fazer pois ao locutório? Só vem para vos referir seus embaraços, seus sofrimentos e sues precisões. E para que serve isso? Só serve para vos encher a cabeça e o espírito de inquietações, de distrações e de defeitos. De sorte que, de cada visita dos parentes, só lucrareis ficar distraídas e inquietas muitos dias na oração e nas comunhões, pensando em todas as coisas que vos disseram. Como, pois, tendo deixado o mundo para ser santas, desejais tanto, que vossos parentes venham visitar-vos com freqüência? Para que? Para que vos façam perder a vossa paz e vosso aproveitamento? E que loucura é essa pensar que não podeis viver alegres sem ver amiúde os vossos parentes? Oh! Se os abandonásseis de todo, muito melhor do que eles, Jesus Cristo vos consolaria e faria a vossa felicidade! Lamenta São Jerônimo o grande número de religiosos que se condenaram, por terem tido compaixão demasiadados parentes. Tremamos; porque o Senhor declara que todo aquele que se pôs ao seu serviço e olha ainda para as coisas do mundo, não é mais apto para o paraíso. Quando vossos parentes quiserem vos enredar nos negócios seculares, escusai-vos polidamente. Observai a advertência que Jesus Cristo deu ao moço que, sendo chamado para segui-lo, dizia que ia primeiro enterrar seu pai: Deixai os mortos sepultar os seus mortos — O mesmo vos digo eu, caríssimas irmãs: deixai que os mundanos, a quem o Senhor chama mortos, tratem os seus negócios lá do mundo; o vosso único negócio seja amar a Deus e cuidar da vossa santificação. Quando a Santíssima Virgem encontrou o Menino Jesus no templo, disse-lhe: Porque nos trataste assim, Filho? Eu e teu Pai te procurávamos cheios de dor — Jesus lhe respondeu: Não sabíeis que eu não me devo ocupar senão das coisas que interessam a glória de meu Pai? — Do mesmo modo, quando vossos parentes se lamentarem de vos recusardes ser-lhes úteis e vos acusarem de ingratas para com eles, de inimigas das vossas famílias, respondei-lhes com firmeza que morrestes para o mundo e deveis aplicar-vos unicamente ao serviço de Deus e do vosso convento. Termino com as palavras de São José Calasans: “Ainda não saiu do mundo a religiosa que se conserva apegada aos parentes” – (Fonte: Retirado do Livro: A Verdadeira Esposa de Jesus Cristo, escrito por Santo Afonso Maria de Ligório, doutor da Igreja)

Ainda citando Santo Afonso Maria de Ligório, lemos em seu livro, Prática do Amor a Jesus Cristo, capítulo XI: “Para alguém chegar à perfeição com Deus, deve desapegar-se totalmente das criaturas, e, em particular, renunciar ao amor desregrado dos parentes. Disse Jesus Cristo: Se alguém vem a mim, e não aborrece seu pai, mãe, mulher, filhos, irmãos e até a sua vida, não pode ser meu discípulo (Lc 14,26). E por que esse desapego dos parentes? É porque muitas vezes, no referente ao bem da nossa alma, não temos inimigos maiores do que os nossos parentes:“Cada um” – diz ainda o Salvador – terá por inimigos os da sua própria casa” – (Mt 10,36). São Carlos Borromeu dizia que, sempre que ia à casa dos parentes, voltava mais frio de espírito. Quando perguntavam ao Padre Antônio Mendonza por que não visitava a casa dos parentes, respondeu: “Sei por experiência, que em nenhum lugar os religiosos perdem tanto a devoção, como na casa dos parentes”. Em se tratando da escolha de estado, é certo, como o ensina São Tomás, que não somos obrigados a obedecer aos nossos progenitores. Se os pais dum jovem chamado ao estado religioso se opõem à sua vocação, este deve preferir a vontade de Deus à deles; porque, segundo observa o mesmo doutor, os pais fazem muitas vezes obstáculos ao bem espiritual de seus filhos, visando fins pessoais e interesseiros. “Preferem vê-los condenarem-se com eles”, diz São Bernardo, “a permitir que se salvem longe deles”. É coisa estranha ver pais e mães, aliás tementes a Deus, deixarem-se cegar pela paixão ao ponto de tudo fazer e nada omitir para entravar a vocação dum filho que deseja entrar em religião; o que exceto algum caso raríssimo, não se pode escusar de culpa grave. Mas dirá alguém: “É então impossível salvar-se quem não se faz religioso? Então todos os que ficam no mundo se condenam? Respondo: Os que não são chamados por Deus ao estado religioso, salvar-se-ão no mundo, cumprindo os deveres de seu estado; quanto aos que a ele são chamados e não obedecem à voz de Deus, poderão, sim, salvar-se, porém dificilmente se salvarão por falta dos socorros especiais que o Senhor lhes prepara no estado religioso; privados desses meios, não chegarão ao salvar-se. Escreve o teólogo Habert que quem não obedece à vocação divina fica na Igreja como um membro fora do lugar, e assim não poderá, sem muitas dificuldades, cumprir os seus deveres e salvar-se. A escolha de estado é chamada pelo P. Luís de Granada a roda-mestra da vida; no relógio, gasta a roda-mestra, tudo se atrapalha; assim, quanto à vocação, errando-a, a vida inteira ficará em desordem. Quantos moços, por haverem perdido a vocação por culpa dos pais, tiveram mau fim e se tornaram a ruína da sua família! Um moço, chamado ao estado religioso, ficou no mundo para agradar a seu pai; mas depois, desavindo-se com ele, matou-o com a própria mão e morreu no cadafalso. Um outro, já no seminário, resistiu à voz de Deus que o convidava a deixar o mundo. Começou por abandonar os exercícios de piedade, a oração, a comunhão, depois entregou-se aos vícios; e, enfim, uma noite que saía duma casa de tolerância, foi assassinado por um rival. Vários sacerdotes acorreram para socorrê-lo, mas encontraram-no morto. Quantos exemplos semelhantes não poderia eu citar! Mas voltemos ao nosso assunto. São Tomás exorta os que são chamados a uma vida mais perfeita a não se aconselharem nesse ponto com seus pais, porque, nesse particular, eles se tornam nossos inimigos, segundo a palavra do Senhor: Cada um terá por inimigos os de sua própria casa. E se os filhos não são obrigados a se aconselharem com seus pais sobre a vocação a um estado mais perfeito, muito menos o são para esperar a sua permissão para segui-la, e nem a pedi-la sempre que possam temer seja-lhes ele injustamente negada e assim entravada a vocação. São Tomás de Aquino, São Pedro de Alcântara, São Francisco Xavier. São Luís Bertrand, e muitos outros entraram no convento sem os próprios pais o saberem”, finaliza Santo Afonso!

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